O Positivismo, descendente do Iluminismo, surgiu como reação contra o Idealismo.
O século XIX foi uma época das maiores descobertas no campo empírico, fruto do Positivismo e seus seguidores.
Foi, também, uma época de grande satisfação dos homens do dinheiro e da cultura de época, pois a tecnologia alimentava uma industrialização, ainda que incipiente.
O Positivismo tentou ser a solução para os problemas socioeconômicos da época. Enfatizava o conhecimento positivo, baseado nos fenômenos naturais e suas propriedades e relações, verificadas pela ciência empírica.
As Ciências exatas eram tomadas como modelo de toda atividade teórica ou prática.
Positivo é:
O Positivismo procurava o como, as leis, não o porquê, as causas filosóficas (Deus, Natureza, etc.) dos fenômenos.
Assim, por exemplo,
O Positivismo acreditava na possibilidade da redução de todos os fatos sociais e humanos a leis científicas. Com isso, acreditava na possibilidade de uma síntese de todo o conhecimento humano.
Acreditiva que se poderia ter a Sociedade e a História governadas por Leis científicas. Com isso, o entendimento dessas leis permitiriria um desenvolvimento social e histórico passível de gestão científica.
Por isso, o Positivismo é considerado uma ideologia científica, frequentemente mantida por tecnocratas que crêem no progresso através do avanço da Ciência, que desemboca em concepções morais hedonistas e utilitárias que, geralmente, buscam o desenvolvimento economico como um fim em si.
No entanto, o Positivismo difere do Empirismo porque inclui o conceito de evolução como lei fundamental de todos os fatos humanos e naturais.
Difere, também, do Idealismo por entender a evolução, não como desenvolvimento racional, teológico, mas como um conflito mecânico de seres e de forças, determinando uma seleção natural, visando o bem-estar material.
Sistemas político-econômico-sociais considerados de inspiração positivista
O Marxismo é considerado um sistema positivista, mas este rejeita o Positivismo e o considera um Idealismo subjetivo porque limita-se apenas a fatos e não investiga as causas subjacentes às coisas (em geral, a luta de classes).
Apesar disso, o Positivismo encampou lutas importantes, tais como:
A Ciência alcança fielmente a realidade, tal como subentende a própria noção de 'positivo', vista acima?
No século XX, a crise interna da ciência mecanicista, ideal e ídolo do positivismo, que desembocou na Mecânica Quântica, na Relatividade, na Teoria do Caos, etc., levou a uma revisão e crítica da ciência e do Positivismo por parte dos cientistas.
“Levada ao paroxismo, a mecânica clássica - que descreve as leis determinísticas que regem o macrocosmo - sugeriu ao pensamento marxista a idéia, tida como inelutável e científica, de que o determinismo histórico regeria as sociedades para formas mais perfeitas de convivência humana. Assim, o materialismo histórico explicaria o avanço do feudalismo ao capitalismo e, deste, ao socialismo, sem indícios de retrocessos substanciais. […] Ora, o Muro de Berlim caiu também sobre essa transposição da mecânica clássica às ciências sociais, soterrando o determinismo histórico e, com ele, os paradigmas que davam uma aparente consistência à modernidade.” (NUNES, 2007)
A partir da ação de grupos contrários (marxistas, comunistas, fascistas, reacionários, católicos, místicos), principalmente pela Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Marcuse, Löwenthal, Habermas, etc.), o Positivismo perdeu influência no século XX.
Mas, no Ensino, ...
... a maioria dos cientistas, professores e livros continua positivista.
"Quando você pode medir aquilo de que fala e expressá-lo em números, você sabe alguma coisa sobre isto. Mas quando você não pode medi-lo, quando você não pode expressá-lo em números, o seu conhecimento é limitado e insatisfatório: pode ser o início do conhecimento, mas você, no seu pensamento, avançou muito pouco para o estágio da ciência." (Lord Kelvin) (aula sobre 'Unidades elétricas de medição' (3 Maio 1883), In: Popular Lectures, v. 1, p. 73)
"A Teoria da relatividade é tão inaceitável para mim como, por exemplo, a existência do átomo e outros dogmas." (MACH)
Em 1814, rompe com os pais por divergências
e entra
para a École Polytechnique
em
Paris, notável por
sua aderência aos ideais republicanos e progressistas.
Lá, em 1817, torna-se secretário e amigo de Henri de Saint-Simon, expoente do socialismo utópico. Concebe a criação de uma ciência social e de uma política científica.
Em 1824, rompe com Saint-Simon por divergências.
Em 1826, revoltado por a École não ter aceito conceder-lhe uma cátedra de 'Filosofia Positiva', abre em casa um Curso de Filosofia Positiva.
Em 1826, é hospitalizado com colapso nervoso, de onde saiu em 1829, sem alta, apenas estabilizado por Caroline Massin, para trabalhar em seu (modesto) Plano de Reorganização da Sociedade e no Ensino.
De 1830 a 1842, publica os seis volumes de seu Curso de Filosofia Positiva. Em 1831, abre curso público e gratuito de 'Astronomia elementar' para os 'operários de Paris', que serve, naturalmente, de fachada para a pregação de sua Filosofia Positiva.
Em 1842, por seu ativismo e rebeldia, perde o emprego de pesquisador na Politécnica por divergências com os superiores e começa a ser ajudado por admiradores, tais como como o pensador inglês John Stuart Mill. No mesmo ano, divorcia-se de Massin.
Em 1844, envolve-se com Clotilde de Vaux, irmã de um de seus alunos, escritora, e esposa abandonada de um cobrador de impostos que, por problemas financeiros, exilara-se na Bélgica. No entanto, Clotilde só lhe oferece amizade e a relação permanece platônica.
Em 1846, Clotilde morre e, de platônica, a paixão torna-se quase religiosa.
Em 1847, Comte se vê como fundador e profeta de uma nova e científica 'Religião da Humanidade' e institui o Calendário Positivista que veremos em seguida.
De 1851 a 1854, publica os enormes volumes do seu Tratado de sociologia que institui a religião da humanidade.
Em 1852, publica seu Catecismo Positivista.
Desta forma, Comte partiu de uma crítica científica da teologia para terminar como profeta!
Seu discípulo Littré, entre outros, contestou a unidade de sua doutrina. Littré aceitou o que ele chamou a primeira filosofia de Augusto Comte e viu na segunda uma espécie de "delírio político-religioso", inspirado pelo amor platônico do filósofo por Clotilde.
O Positivismo de Comte rejeitou a Democracia, a Monarquia e a Igreja, enfatizando a hierarquia e a obediência.
Pregava um governo ideal formado por uma elite intelectual.
Propôs uma sociologia 'científica'.
Tinha a moralidade e o progresso moral como objetivos centrais do conhecimento e esforço humano
No indivíduo
Pode-se, assim pensar que, nessa ótica, quem não aceita o Positivismo é infantil?
Matemática | abstração sem observação, mera ferramenta de cálculo |
Astronomia | observações puramente visuais + princípios |
Física | + experimentos |
Química | + classificação = complexa |
Biologia | + comparações = concreta |
Sociologia | + método histórico = soma total! |
cada vez mais humana |
Cada ciência depende da precedente.
A Sociologia seria a sexta ciência fundamental, a mais concreta e complexa, cujo objeto de estudo é a 'humanidade'.
Comte se opõe ao reducionismo, à "explicação do superior pelo inferior". Para ele, os fenômenos psicoquímicos condicionam os fenômenos biológicos, mas a biologia não é uma química orgânica.
A Sociologia transformar-se-ia na política que guiaria as outras ciências, regenerando-as(!)
A Sociologia regeria (!) todas as Ciências, em nome da 'Humanidade', proibindo as pesquisas inúteis:
Por exemplo, um astrônomo deve estudar somente o Sol e a Lua, pois estes têm influência sobre a Terra e sobre a humanidade, e evitar os estudos politicamente estéreis (!) dos corpos celestes mais afastados!!
O Positivismo pretendia substituir a especulação racional das filosofias pelos dados positivos da pesquisa científica. Com isso, abriu campanha contra a Filosofia Pura.
Propunha uma coletânea de ciências cobrindo todo o saber humano.
Tinha por Lema: "Nada de filosofia, nada de pura especulação e sim, sistematização e metodologia das ciências".
Comte rejeita a doutrina dos direitos do homem e da liberdade como metafísica (primitiva)
Argumentava que, assim como "não há liberdade de consciência em astronomia", uma política verdadeiramente científica pode impor suas conclusões.
Pregava que aqueles que não compreenderem a Filosofia Positiva terão que se lhe submeter cegamente (o equivalente da fé na religião positivista).
O Calendário positivista foi proposto por Comte em 1849.
Era formado por 13 meses de 28 dias, cada, com um dia adicional comemorativo ao final, perfazendo 365 dias, com início em 1789, ano da Revolução Francesa.
1 Moisés (Teocracia inicial) | 8 Dante (poesia épica moderna) |
2 Homero (Poesia antiga) | 9 Gutenberg (indústria moderna) |
3 Aristóteles (Filosofia antiga) | 10 Shakespeare (drama moderno) |
4 Arquimedes (Ciência antiga) | 11 Descartes (filosofia moderna) |
5 César (civilização militar) | 12 Frederico II (política moderna) |
6 S. Paulo (Catolicismo) | 13 Bichat (Ciência moderna) |
7 Carlos Magno (civilização feudal) |
Era tal que o primeiro dia de cada mês era sempre uma segunda-feira e cada dia homenageia alguma pessoa ilustre relativa ao mês.
Por exemplo, hoje (22/08/2011) seria 12 (dia dedicado o escritor Schiller) do mês de Shakespeare (que homenagiea o Drama moderno) do ano 223 após a Revolução.
O site The Positivist Calendar permite calcular qualquer data correspondente no calendário positivista.
No entanto...
1845: tentou transformar-se em religião(!)
1847: Comte intitulou-se "Sumo Sacerdote da Humanidade"
Comte diz que teve duas carreiras em sua vida: foi Aristóteles e seria São Paulo
A Religião Positivista é agnóstica, sem Deus, pois substitui Deus pela Humanidade (Grande-Ser)
Presta culto ao gênio de seus grandes homens e sábios, Comte fala em "imortalidade subjetiva", isto é, eles serão imortais na memória da cultura.
Admitia a terra, que chamou de "o Grande-Fetiche", e o ar como objetos de culto.
Não repudiava mas transpunha as ideias e até a linguagem da crenças anteriores.
"Muito embora o positivismo rejeite toda crença sobrenatural, é, no entanto, a única religião cujos dogmas são verdadeiramente universais, como universal é a existência natural dos instintos benévolos, a solidariedade e a continuidade humana, a escala enciclopédica de sete graus, a ordem e o progresso e o anseio de harmonia e de construção pacifica e industrial, em substituição à guerra. […] A ‘Potência superior’ que sempre se sentiu e que nossos antepassados explicavam pela existência de vontades divinas, explica-se hoje pela existência da Ordem Natural, cuja consciência nos vem da apreciação do conjunto das concepções humanas que constitui a escala enciclopédica de sete graus."
"Quanto à ‘Providência Divina’, que o espírito teológico atribui a seres com poderes sobrenaturais, e a quem dirige suas súplicas, o positivismo demonstra, irrefutavelmente, a existência, não sobrenatural, ou fictícia, mas natural e real, proveniente da solidariedade e continuidade humana, na forma de um crescente tesouro de conquistas teóricas e práticas que a espécie acumula, a duras penas, e lega de geração a geração. […] Subjetivamente podemos sentir a presença de todos aqueles a cujos esforços devemos o estagio do presente. E essa presença subjetiva estende-se para o futuro onde nos vemos e nos sentimos num eterno evoluir regido pela ordem natural."
Tens Senhora, tão grande potestade
Que quem a graça quer e a Ti não corre
Sem asas voar lhe quer a vontade.
A tua benignidade não socorre,
A quem T'implora só; com caridade
Frequentemente à suplica percorre.
Em Ti misericórdia;
Em ti piedade;
Em Ti magnificência;
Em Ti concorre
Tudo quanto no mundo
Há de bondade
Oh! Virgem-Mãe e Filha do teu filho!
A Ti, mais do que a nós mesmos,
Amemos sem cessar;
E a nós somente
O puro amor de Ti
Nos faça amar.
Esteve à procura de uma 'divindade': rejeitou Deus, considerou a Virgem-mãe (Clotilde), optou pela 'Humanidade' e decidiu pela Ciência.
O Positivismo no Brasil foi mais doutrinário e menos reflexivo.
O princípio positivista: "O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim" inspirou o lema "Ordem e progresso" da nossa bandeira (parece que esqueceramo o 'amor').
Questão religiosa
positivismo ortodoxo
positivismo heterodoxo
Foi o primeiro edifício, no mundo, construído em 8 de Abril de 1876 para "difundir a Religião da Humanidade".
A disposição interna faz lembrar uma igreja convencional
No 'altar', como não podia deixar de ser, há um busto de Comte.
Nas laterais, há nichos contendo bustos das 13 personalidades homenageadas nos 13 meses do calendário positivista.
Num nicho especial, beatíficas imagens femininas, homenageando o 'princípio feminino', na figura de não outra senão Clotilde de Vaux.
Há, também um quadro em que Clotilde aparece num vestido branco como de uma noiva ou de uma vestal, ou, talvez, de uma deusa Diana.
Em outro quadro, Clotilde aparece em posição sofredora e lamentante num vestido escuro, como uma Mater dolorosa católica, sendo confortada por alguma entidade espiritual misteriosa.
Há, também, templos em Curitiba e em Porto Alegre, este na Avenida João Pessoa, no centro, próximo ao Brique da Redenção.
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