O método dedutivo:
A verdade das conclusões baseia-se na verdade das premissas; e como ter certeza da verdade das premissas? Como vimos na parte anterior, Descartes baseou-se em evidências, mas, de tudo o que vimos até agora, como garantir que uma evidência é verdadeira? Quantas 'verdades' 'evidentes' já caíram por terra?
Por outro lado, fornecer-se premissas das quais um fato possa ser deduzido não é suficiente para torná-lo inteligível:
Por exemplo, se acontece x e (x implica y) então acontece y. Mas, ainda assim, fica a pergunta: porque acontece x?
De fato, em Matemática, apesar do conteúdo dos teoremas já residir, de certa forma, nos axiomas e postulados, esse conteúdo está longe de ser óbvio.
O método indutivo:
O método indutivo é criticado justamente por esse 'salto indutivo' epistemologicamente injustificável do particular para o geral.
Sempre há o risco da amostra ser insuficiente e/ou tendenciosa.
Ao contrário do que propunha Bacon, visto anteriormente, nenhum número restrito de observações pode acarretar logicamente um enunciado irrestrito. Um milhão de evidências não provam nada!
Mesmo a indução probabilística, que fornece conclusões apenas prováveis, não foge do problema do salto indutivo.
Uma defesa usual é afirmar que "a indução sempre funcionou no passado". Mas isto também é uma indução pois subentende que ela sempre continuará a funcionar!
É comum ouvir-se a frase "isto nunca aconteceu antes", como argumento de defesa.
Mas isto é um raciocínio indutivo circular, como apontou Hume: como se o fato de nunca ter acontecido antes garantisse que nunca iria acontecer!
O paradoxo do corvo, segundo crítica de Hempel:
Será que não existe, por exemplo, pelo menos um corvo branco em algum lugar remoto do mundo?
Segundo Hempel, para descobrir se todos os corvos são pretos, não precisamos explorar regiões remotas da África ou ilhas isoladas do Pacífico.
De fato, a afirmação 'Todos corvos são pretos' é logicamente equivalente a 'Tudo que não é preto não é corvo'.
Com isso, da mesma forma que
'Este corvo é preto' corrobora a afirmação 'Todos corvos são pretos'
Tudo para o qual se aplique a afirmação
'Este não-corvo não é preto'
que, por sua vez, sendo equivalente,corrobora 'Tudo que não é preto não é corvo'
corroboraria, também, 'Todos os corvos são pretos'.
Por exemplo, em 'maçã' sendo 'não-corvo' e 'vermelha' sendo 'não-preto',
'Esta maçã é vermelha', corrobora 'Todos os corvos são pretos'.
Da mesma forma,
'Esta folha é verde', corrobora 'Todos os corvos são pretos'.
No entanto, 'vermelho' e 'verde' são, ambas, 'não-branco'.
Com isso,
'Esta maçã é vermelha' e 'Esta folha é verde', corroboram também 'Tudo que não é branco não é corvo'
Mas a afirmação 'Tudo que não é branco não é corvo' é logicamente equivalente a 'Todos corvos são brancos' e, portanto,
'Esta maçã é vermelha' e 'Esta folha é verde', corroboram também a afirmação 'Todos corvos são brancos'!
Mas isto não é um paradoxo, como parece, mas uma deficiência do metodo indutivo na produção de verdades.
Veremos como superar esse problema com o Falsificacionismo de Popper na aula Pós-positivistas.
O Ceticismo foi primeiramente articulado por Pirro de Élis (séc. III a.C.). Foi revivido por Montaigne (séc. 16) e Pascal (séc. 17), mas seu principal expoente foi Hume.
Trata-se de uma doutrina que afirma que não se pode obter nenhuma certeza absoluta a respeito da verdade, o que implica numa condição intelectual de questionamento permanente.
Pregou a aplicação do método experimental, especialmente o de Newton, aos fenômenos mentais, sendo, assim, precursor da atual ciência cognitiva.
O Ceticismo moderno surge como crítica do Racionalismo ao Empirismo.
Nem o Racionalismo nem o Indutivismo podem levar à certeza da permanência do Universo:
Assim, para o Ceticismo, a experiência é única fonte do conhecimento, sim, mas não pode fornecer 'conhecimento correto'
O melhor que se pode fazer, assim, é 'se tais e quais condições são preenchidas então seguem-se tais conclusões'.
Com isso, não se pode ter certeza do conhecimento do mundo exterior!
Como vimos na aula Epistemologia e seus Conceitos Básicos, enquanto
O Utilitarismo tem sua origem em Epicuro (séc. a.C.), tendo sido desenvolvido por Bentham (séc. 19) e James Mill, bem como por seu filho, John Stuart Mill.
Segundo o utilitarismo, a experiência não provê conhecimento teórico, mas, sim, conhecimento suficiente para a vida prática.
Enfatizam que a ocorrência repetida de um evento antes de outro não constitui prova de causa e efeito, pressuposto base da inferência.
Por exemplo, o fato de o Sol ter 'nascido' todos os dias durante os últimos bilhões de anos garante que 'nascerá' amanhã?
O Iluminismo foi um movimento cultural-filosófico ocorrido no final do séc. XVIII, o 'século das luzes'.
Centrado na França, foi herdeiro da tradição do Renascimento e das concepções mecanicistas da Revolução Científica Europeia do século XVII (veremos mais sobre ela na aula As Contribuições de Galileu e Newton) e do Humanismo, defendendo a valorização do Homem e da Razão. Nas alegorias, sempre aparece a divindade Sofia (Sabedoria) envolta em luzes que representam a clareza que vem do Conhecimento e da Razão.
Como dito, o Iluminismo foi inspirado na Revolução Científica Européia do século XVII e visava compreender a Lei Natural.
Oferecia a Razão e Ciência como explicações p/ o Universo, em oposição à fé.
Acreditava-se que, aplicado a todas as esferas de conhecimento e atividade humana, o pensamento científico levaria ao progresso, após a tradição, irracionalidade, superstição e tirania da Idade Média. Esta ideia irá ser seguida pelo Positivismo e pela tecnocracia modernas, como veremos adiante.
Lutando contra o conservadorismo e os abusos do catolicismo, o Iluminismo teve grande dinâmica nos países protestantes, tais como na Inglaterra, com Adam Smith, Locke e Hume (vistos na aula História da Epistemologia); nos EUA, com Jefferson e Franklin, e na Alemanha, com Kant, tendo sido, por outro lado, mais lento e gradual nos países católicos como Espanha, Itália e Portugal, aqui, apesar da influência do Marquês de Pombal.
O Iluminismo pregava pensar por si mesmo e não se deixar levar por ideologias alheias.
Pregava também uma sociedade 'livre', com mobilidade social e igualdade de oportunidades.
Tinha a visão das riquezas dos países como extraídas terra e da natureza, numa exploração 'científica' da Natureza.
Adam Smith pregava que o indivíduo estava livre para buscar lucro próprio sem escrúpulos, pois acreditava que, de qualquer forma, isso causaria um impulso à Economia e geração de bem-estar geral na Sociedade.
O Iluminismo foi o ambiente intelectual para:Foi o impulsionador
A Revolução Francesa (1789) foi uma mudança de paradigma:
Como visto, o Iluminismo rejeitava a fé como fonte de explicações p/ o Universo, pregando, antes, a Razão e Ciência como fontes de conhecimento. Por outro lado, lutava contra o conservadorismo e os abusos do catolicismo, acreditando que a Idade Média foi um período de irracionalidade, superstição e tirania religiosas.
Com isso, o Iluminismo posicionava-se como anticlerical, o que não quer dizer anticristão nem ateu, pois lutava contra a influência política dominante do clero, pregando a separação e não interferência entre o poder religioso e o civil.
Diderot, ferrenho anticlericalista do Iluminismo, exprimiu sua posição com a frase que ficou célebre:
"O mundo só estará a salvo no dia em que morrer o ultimo déspota enforcado nas tripas do ultimo padre." (Diderot)
Um edifício interessante que ilustra essa visão iluminista é a Biblioteca Joanina, da Universidade de Coimbra.
Foi construída por ordem de D. João V e foi concluída em 1728, num estilo barroco, mas já com influência Iluminista.
Abriga 60.000 volumes em 1.250m²
Clique nesta imagem para assistir a um vídeo da BBC Brasil sobre a Biblioteca Joanina.
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